quinta-feira, 15 de julho de 2010

Recordar, Repetir e Elaborar

(Novas Recomendações sobre a Técnica da Psicanálise)



No texto Recordar, Repetir e Elaborar, Sigmund Freud levanta uma série de considerações para o aprimoramento da técnica psicanalítica. Nessa primeira fase (a catarse de Breuer) recordar e ab-reagir, com auxílio era o que se visava . A psicanálise buscava através da hipnose, reproduzir o trauma original causador do sintoma do paciente. Este seria o tipo ideal de lembrança, vez que ele se manifestaria sem interferência nenhuma da repressão. Revelando-se limitada, foi deixada de lado e substituída pela recordação por meio das associações livres do paciente. Nesse momento, a resistência passa a ser considerada e contornada pelo trabalho da interpretação. As situações que haviam ocasionado a formação do sintoma e as outras anteriores ao momento em que a doença irrompeu conservaram seu lugar como foco de interesse e finalmente, o analista abandona a tentativa de colocar em foco um momento ou problemas específicos e passa a estudar tudo o que se ache presente, de momento, na superfície da mente do paciente e emprega a arte da interpretação principalmente para identificar as resistências tornando-as conscientes para o paciente.
Ao vencer suas próprias resistências, o paciente relaciona sem dificuldades as situações esquecidas. Freud chama atenção para os casos em que o paciente, em vez de recordar aquilo que ele reprimiu e esqueceu expressa-o pela atuação.(acting-out). A experiência em questão não é reproduzida pela lembrança, mas como ação; repete-o, sem, naturalmente, saber que o está repetindo. Logo, percebemos que a transferência é, ela própria, apenas um fragmento da repetição e que a repetição é uma transferência do passado esquecido para todos os outros aspectos da situação atual.
O paciente se submete à compulsão, à repetição, que substitui o impulso a recordar em cada diferente atividade e relacionamento que podem ocupar sua vida na ocasião. Quanto maior a resistência, mais extensivamente a atuação (acting out) substituirá o recordar, pois o recordar ideal do que foi esquecido, que ocorre na hipnose , corresponde a um estado no qual a resistência foi posta completamente de lado. Portanto, vimos que o paciente repete ao invés de recordar, repete suas inibições, atitudes inúteis, traços patológicos de caráter, sintoma (compulsão à repetição). Esta compulsão aumenta com o início da análise , e deve tratar a doença, não como um acontecimento do passado, mas como uma força atual.
O recordar (induzido pela hipnose) dava a impressão de um experimento de laboratório. O repetir ( no tratamento analítico) implica evocar um fragmento da vida real. A deterioração durante o tratamento era inevitável.
O instrumento principal para reprimir a compulsão à repetição e transformá-la num motivo para recordar reside no manejo da transferência e em substituir sua neurose comum para uma neurose de transferência, da qual pode ser curado pelo trabalho terapêutico.
A transferência cria assim uma região intermediária entre a doença e a vida real, através da qual a transição de uma para a outra é efetuada. A nova condição representa uma doença artificial acessível a nossa intervenção. O primeiro passo para superar as resistências ocorre com a revelação feita pelo analista ao paciente sobre elas. Então, deve-se dar ao paciente tempo para conhecer melhor a resistência e elaborá-las. Esta elaboração das resistências pode, na prática, revelar-se uma tarefa árdua para o sujeito e uma prova de paciência para o analista. Contudo, trata-se da parte do trabalho que efetua as maiores mudanças no paciente e que distingue o tratamento analítico de qualquer tipo de tratamento por sugestão.

Gicileide Ferreira

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