quinta-feira, 6 de setembro de 2012

sofrimento psíquico do professor





“Transtornos afastam docentes das salas de aula”. Excesso de trabalho, falta de condições e decepção com o desinteresse dos alunos impactam na saúde de professores, segundo especialistas. Apenas no Distrito Federal, cerca de 2% dos professores não atuam devido a doenças emocionais. (Correio Braziliense).

Nos últimos anos, houve bastante interesse por partes dos pesquisadores em desenvolver  estudos acerca da saúde mental e distúrbios comportamentais devido o grande volume de afastamentos do trabalho que tem como origem o estresse e outras doenças psíquicas. Percebo, no mundo globalizado, um aumento excessivo de pessoas com transtornos emocionais e mentais, especialmente em alguns ambientes de trabalho.

Desde a proposta de Freud de fazer da Psicologia uma ciência natural, a contribuição da Psicanálise se dá com o estudo do comportamento em função da história individual, em termos de acontecer humano. Com Freud, um fato psicológico adquiriu movimento, integrou-se em um processo porque se relacionou com os outros fatos psicológicos da mesma pessoa, no plano atual e histórico. O que temos em Freud é a valorização da natureza ativa dos processos inconscientes, sua qualidade dinâmica, influenciando e modelando o pensamento e a ação conscientes (PEDROZA e ALMEIDA, 1994).

Ser professor não é apenas ser um mediador entre o aluno e o conhecimento já construído socialmente. Ser professor é mais do que isso, é estar envolvido na trama das relações no âmbito escolar. O sofrimento psíquico será abordado enquanto sintoma que aponta para um desconforto subjetivo e singular e não como uma doença orgânica. O professor é um sujeito também que enfrenta dificuldades, que se submete a riscos, que se encontra dividido entre seus medos e seus desejos, sua história de vida e é vítima de seus contrastes. 

Como gestora por quase 15 anos da rede Pública do Distrito Federal, tenho testemunhado o quanto o professor é pressionado pela sociedade em dar conta das práticas pedagógicas, o quanto ele sofre por não realizar o que  idealiza, causando frustração, medo, ansiedade na sua profissão,  principalmente, por se encontrarem inseridos em uma sociedade que se transforma muito rapidamente e que exige constantes mudanças e adaptações. Percebo, também, que esse sofrimento se manifesta no âmbito subjetivo e social no ambiente escolar, sob a forma recorrente de depressão, estresse e abandono da sala de aula, por se perceberem incapazes de responder as demandas contraditórias presente no cotidiano escolar. Nesse contexto, eles se sentem insatisfeitos por não conseguirem dar conta das exigências que lhe são impostas no campo profissional por mais que se esforcem, não consegue alcançar o nível de excelência exigido pela sociedade e não quer abrir mão de ideais de ser um bom professor, portanto, acaba adoecendo. Por outro lado, percebo  que a escola também, não tem nenhum tipo de planejamento no cotidiano escolar do qual fazem parte e nem ações compartilhadas para a execução de estratégias pedagógicas que possam melhorar as condições do exercício pedagógico, que é o trabalho do professor. Muitas vezes, o estresse dos professores acontece devido a uma série de demandas do próprio ambiente de trabalho e também  das externas.


Souza (2002) aponta que todos os que são professores sofrem a demolição tanto profissional quanto pessoal da experiência devastadora de ser confrontado com o desinteresse dos alunos, o que, de certa forma, os destitui do lugar de mestre. Os alunos que se recusam a aprender denotam tanto o próprio fracasso quanto o do professor.

                        Dejours (1987), as situações de medo e tédio são responsáveis pela emergência do sofrimento, que se reflete em sintomas como a ansiedade e a insatisfação.  O autor relaciona a esses sintomas à incoerência entre o conteúdo da tarefa e as aspirações dos trabalhadores, a desestruturação das relações psicoafetivas com os pares, a despersonalização com o produto e sentimentos de frustração e adormecimento intelectual. As mudanças ocorridas no mundo do trabalho são  responsáveis pela sobrecarga e, associada à exigência pelo, o que torna o sofrimento inevitável.

            Dejours (1994), faz uma análise  das relações entre trabalho, prazer e sofrimento com base na organização do trabalho. Para o autor, existe um paradoxo psíquico do trabalho; este é, para uns, fonte de equilíbrio; para outros, causa fadiga e sofrimento. Assim, o trabalho é equilibrado quando traz consigo a possibilidade da diminuição da carga psíquica e é extenuante quando não possibilita essa diminuição.

        
            Kupfer (2001) alerta que “ o mal - estar funda a civilização, as idéias de progresso e avanço civilizatórios são incompatíveis com a condição humana cuja  base são nossas piores disposições, cujo objeto de desejo está para sempre perdido  e cujo fim é a morte. Somos constituídos por uma falta que nos funda, mas nos condena a insatisfação estrutural e à infelicidade”(p.14)

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Matéria retirada do site Mente & Cérebro no dia 03/09/2012 às 16:29 http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/e_hora_de_procurar_ajuda_.html Grande parte das pessoas enfrenta, em algum momento da vida, transtornos de saúde mental que podem ser tratados; é o caso da depressão e do estresse, mas a falta de informação e o preconceito ainda fazem com que adultos e crianças sofram sozinhos em vez de procurar um profissional qualificado por Robert Epstein Vinte e três milhões. Este é o número de brasileiros que necessitam de acompanhamento na área da saúde mental. Desse total, pelo menos 5 milhões sofrem com transtornos graves e persistentes, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Nesse universo encontram-se crianças e adultos que sofrem de patologias como depressão, transtornos de ansiedade, distúrbios de atenção e hiperatividade e dependência de álcool e drogas. Aproximadamente 80% das pessoas que sofrem com esses transtornos não recebem nenhum tipo de tratamento. Mas a situação não é prerrogativa do Brasil. Ainda de acordo com a OMS, um em cada quatro americanos passa por um transtorno psiquiátrico diagnosticável em algum momento da vida. Exageros à parte, no decorrer de nossa existência muitas vezes nos perguntamos se somos mentalmente saudáveis e se não estaria na hora de buscar ajuda profissional. A preocupação faz sentido: de fato, quase metade da população do planeta apresenta algum tipo de transtorno durante a vida. Infelizmente, porém, em cerca de dois terços dos casos os problemas comportamentais e emocionais jamais são diagnosticados e acompanhados, embora muitos deles possam ser tratados de maneira eficaz. Mais de 80% das pessoas com depressão grave, por exemplo, são capazes de se beneficiar significativamente da combinação de medicação e terapia. (mais…) Read full article |Leave a comment Tags: ajuda, psicanálise, psicoterapia Categories: Artigos Psicanálise e Feminismo 29 de agosto de 2012 Posted by admin Máteria retirada do Portal da Revista Cult, no dia 29/08/2012 às 14:20 http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/psicanalise-e-feminismo/ Relegado ao papel de enigma na teoria freudiana, o feminino constitui-se como potência crítica às estruturas hegemônicas nos estudos mais recentes Por: Márcia Arán O debate sobre psicanálise e feminismo atravessou o século 20 e ganha novos matizes na aurora do século 21. Ora se configurando como campos completamente antagônicos, devido ao teor misógino das principais teses psicanalíticas sobre a sexualidade feminina, ora se aproximando devido ao número significativo não apenas de pacientes mulheres, mas também de mulheres analistas, o debate entre psicanálise e feminismo persiste como uma mola propulsora de teorizações sobre subjetividade e cultura. A abordagem psicanalítica da feminilidade deixa transparecer o enorme esforço da modernidade para recalcar o feminino e a experiência sensível em nome da civilização masculina e da razão. Para ilustrar esse debate, escolhemos duas passagens que fazem parte dessa história: o encontro de Freud com as mulheres histéricas, especialmente Bertha Pappenheim (Anna O.), no final do século 19, e o debate das feministas com a teoria de Jacques Lacan, especialmente Lucy Irigaray, em meados dos anos 1970. (mais…) Read full article |Leave a comment Tags: debate, feminismo, Freud, Lacan, mulher, século 20, século XIX, século XX Categories: Artigos Uma questão de potência 20 de agosto de 2012 Posted by admin Matéria retirada do site Mente & Cérebro no dia 20/08/2012 http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/uma_questao_de__potencia.html Academy of sitted man, Gericault 1791-1824, Theodore, France As vivências sexuais pré-genitais na infância, acrescidas das experiências socioculturais, constituem a base da identidade sexual masculina e ajudam a compor o imaginário em torno do pênis por Cristina Romualdo Símbolo de poder, domínio e virilidade, o pênis sempre ocupou posição de relevância na cultura de praticamente todas as civilizações, sendo inegável o fascínio que exerce sobre a humanidade desde os tempos mais remotos. As diversas representações sobre o órgão sexual masculino formaram um imaginário tão poderoso que ultrapassou o senso comum e tornou-se objeto de estudo da ciência. Elemento fundamental na construção da identidade masculina, a forma como o pênis é visto no contexto sociofamiliar e a percepção que o homem tem do valor atribuído a sua posse determinam o desenvolvimento de sua estrutura psicossexual. Para o jornalista americano David M. Friedman, o pênis é o órgão definidor do sexo masculino, pois constitui a mais evidente diferença física entre homens e mulheres. (mais…) Read full article |Leave a comment Tags: homem, pênis, sexo, sexualidade Categories: Artigos A cura pela palavra 13 de agosto de 2012 Posted by admin Matéria retirada do site Mente & Cérebro no dia 13/08/2012 – Edição: 225 – outubro 2011 http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/acurapelapalavra.html O psicanalista Christian Dunker, colaborador de Mente e Cérebro, fala sobre seu novo livro, Estrutura e constituição da clínica psicanalítica, em entrevista à editora Karnac Books, que lançou a obra na Inglaterra 1. O que levou o senhor a escrever este livro? No Brasil, os cursos de psicologia nas universidades incluem experiência prática e a necessidade de lidar com pacientes em contextos inspirados pela clínica psicanalítica. Como professor do instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), eu tenho de lidar com estudantes que são obrigados a atender pacientes pela primeira vez. Frequentemente, como bons alunos, eles procuram saber sobre a história da prática que vão começar. A única resposta que tinha para dar dizia respeito à história da própria psicanálise, não à história das habilidades específicas que você deve ter para enfrentar as questões de tratamento, cura e terapia como uma experiência clínica. Dessa forma, o livro resulta de uma “demanda prática”, a que eu pretendi responder de forma organizada e crítica, não simplesmente em termos de um repertório de saberes ou disposições de ação, mas como práticas inseridas em uma lógica histórica, mesmo que não linear. 2. Resumidamente, de que fala o livro? Situo a psicanálise como uma prática por meio de uma espécie de arqueologia de contextos e experiências sociais que dão origem ao tratamento psicanalítico, desde a função terapêutica das narrativas e epopeias, no universo greco-romano e judaico-cristão, até o século 21. Em cada capítulo, examino uma “prática” analisada como um “processo histórico”, às voltas com sua inscrição em contradições sociais cujas características representam uma problemática específica, tais como: xamanismo, mitologia, retórica e terapias de compromisso narrativo, a medicina da alma (Platão, Empédocles, Hipócrates), a encenação das tragédias gregas, o cuidado de si helênico e a arte da escrita como uma cura da alma (no trabalho, por exemplo, de Montaigne). Mesmo em nossa modernidade, autores como Descartes, Kant e Hegel são examinados em relação à prática que inspiram (método, a meditação, a regulamentação da alma, a experiência da loucura, hipnotismo e auto-historicização). A importância de trabalhar com essas referências é que elas permitem tornar visível como fazemos coisas diferentes quando praticamos a psicanálise, o que ajuda a explicar sua diversidade bem como parte de suas tensões éticas, políticas, epistêmicas e metodológicas. 3. De onde veio a ideia de escrever este livro? Tudo começou como uma espécie de desafio proposto por Erica Burman e Ian Parker, professores da Manchester Metropolitan University, onde eu estava fazendo meu pós-doutorado em 2000: “Seria possível escrever uma espécie de história das práticas que constituem a psicanálise”, da mesma forma que Hegel esceveu a Fenomenologia do espírito, mas que seja conectada às relações de poder e às estruturas de práticas sociais? No início minha ideia foi escrever uma espécie de romance filosófico da psicanálise. Quando fui escrever minha livre-docência, em 2006, lembrei-me desse devaneio e resolvi colocá-lo em prática. Originalmente o trabalho tinha menos da metade de seu tamanho de hoje. Na verdade, era um esboço baseado em uma espécie de síntese de minha produção teórica até aquele momento, como se espera de uma tese de livre-docência. Depois disso me envolvi com a extensa e problemática experiência linguística intelectual de traduzir um livro para o inglês, que foi publicado pela Karnac Boooks em 2010. Lacan já é difícil em francês, imagine depois de um estágio na língua portuguesa e uma deriva para inglês? Não fosse meu amigo Terrence Hil, jamais teria conseguido. Há termos cruciais que simplesmente não têm equivalente estável em inglês. Isso envolve noções simples e centrais para o livro, como saber, sujeito e cura. Enquanto traduzia o livro para o inglês, seus problemas começavam a ficar mais claros, o que me levou a uma nova versão, recentemente publicada pela Editora Annablume. 4. Quais foram as suas motivações e sentimentos ao escrevê-lo? Foi um projeto estranho, mas muito divertido, porque há muitas concepções filosóficas envolvidas na psicanálise, particularmente na psicanálise lacaniana. Por isso é tão interessante organizar todo o material cronologicamente e alterar a perspectiva a partir de conceitos e ideias práticas e estratégias empíricas, para lidar com o sofrimento humano, com o mal-estar e com as expressões sintomáticas. Tive de deixar de lado inúmeras fontes e comentadores. Em troca pude, em cada capítulo, trazer uma espécie de pequeno conto que ilumina o problema, ao modo de uma figura. Sempre achei que a clínica é uma espécie de crítica social feita por outros meios. Nossa formação uspiana enfatiza muito esta dupla exigência: clínica e crítica. Mas as histórias que tínhamos para articular as duas perspectivas eram, em sua maioria, relatos hagiográficos, autocomplacentes e ideológicos. 5. Você acha que seu livro poderia mudar alguns aspectos da psicanálise? Sim, eu realmente acho que a psicanálise muitas vezes se esquece de suas origens na medicina, na política, na retórica, no hipnotismo, nos tratamentos morais e assim por diante. Diz-se que isso ficou para trás, atitude que acho bastante suspeita para uma teoria que considera que o que ficou para trás acaba sempre voltando pela frente, e levando-nos a tropeçar. Todas as táticas utilizadas para lidar com o sofrimento por meio das palavras tiveram de ser suprimidas a fim de estabelecer a psicanálise como um tratamento novo e um método autônomo. Como consequência, não podemos distinguir a psicanálise da psicoterapia e de outras técnicas sugestivas, já que ela passou a depender mais de estratégias conceituais, disciplinares e discursivas. Temos de confrontar essa tendência em considerar nossa prática como algo imune às relações de poder ou como uma simples extensão do tratamento médico. 6. Como acha que seu livro vai ajudar os profissionais e outras pessoas? Há muito discurso psicoterapêutico na política, na religião, na educação e em outras atividades moralizantes. A ideia de que a autoridade para tratar e curar requer faculdades incompreensíveis e habilidades ocultas é muitas vezes empregada para silenciar a crítica e apoiar a atitude obediente em diferentes tratamentos de “saúde” (médicos, nutricionais, psicológicos, de reeducação etc.). Em contraste, a perspectiva psicanalítica de que a clínica é um tipo de risco que o paciente é convidado a assumir, para embarcar na aventura de descobrir coisas sobre si mesmo e sobre a sociedade em que vive, é realmente muito simples e poderosa. O princípio de que a psicanálise, em particular, envolve necessariamente uma espécie de relação de poder é importante: a análise não é a produção de um consenso 7. Quer dizer que leigos podem ler o livro? Há capítulos dedicados a modelos formais de tratamento na psicanálise. Estes devem ser evitados pelos leigos. Ao lado desses capítulos há narrativas acessíveis – na verdade, a maioria –, alinhadas a uma espécie de romance histórico. É um livro que pode ser lido por qualquer pessoa com interesse em filosofia ou em história da medicina e da psicanálise. Aliás, esta é uma das pretensões do trabalho: mostrar como nós compartilhamos nosso fazer com muitos outros que se ocuparam antes de nós, e o farão depois de nós, com o sofrimento humano. A clínica é uma experiência, no sentido mais forte da palavra. Temos ainda um respeito reverencial pela força disciplinar com relação ao diagnóstico, à semiologia, à etiologia e tudo o mais que se apossou do controle e intervenção legítima sobre o corpo e suas afecções. Esquecemos que mesmo na disciplina mais rígida da epidemiologia e no controle social de práticas higiênicas e profiláticas estão em jogo uma política e uma ética. Nossa atitude básica é de achar que isso tudo é um domínio técnico para especialistas e que o máximo que podemos fazer é nos colocar passivamente diante de tais autoridades constituídas. 8. Você recebeu algum apoio para concluir seu livro? Sim, tenho tido certo apoio da Universidade de São Paulo, no Brasil, e especialmente “apoio intelectual maciço” de meus amigos da Manchester Metropolitan University, cujas ideias estamos estudando agora no Brasil. Na verdade sempre digo que este é um trabalho que exprime um esforço coletivo. Não teria sido possível sem as dezenas de colegas, amigos e alunos que, sabendo do emprendimento, me alertavam dos riscos e produziam material, dificilmente acessível de outra forma. Nossos alunos do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da USP, bem como Vladimir Safatle e Nelson da Silva Jr. participaram do projeto desde o início. Meus alunos de graduação e do seminário aberto que ofereço na USP há muitos anos, o pessoal do Fórum do Campo Lacaniano, escola de psicanálise à qual pertenço, alimentaram muito esta aventura. Mas o apoio decisivo foi o que recebi de José Roberto e Eva, na Editora Annablume, que apostaram nessa ideia amalucada de publicar um livro com 655 9. Poderia nos falar um pouco mais de seu trabalho, de sua vocação e experiência profissional? Eu nasci em 1966. Eu pratico psicanálise no Brasil e ensino na Universidade de São Paulo, no Instituto de Psicologia. Fiz o meu doutorado sobre a incidência do tempo e da linguagem na psicose da criança. Em seguida, estudei filosofia e as ciências da linguagem. Lecionei em inúmeras faculdades de psicologia, publiquei livros e artigos sobre a teoria lacaniana do sujeito e da interpretação, bem como sobre a teoria social e sobre a crítica da cultura. Hoje estou envolvido em duas grandes linhas de investigação: (1) patologia social: críticas da razão diagnóstica (sobre a disseminação do diagnóstico na nossa cultura e da patologização da vida cotidiana) e (2) marcas corporais e afecções da pele (sobre discursos e práticas em torno da modificação do corpo). Eu escrevo regularmente para a revista Mente Cérebro e para o siteCarta Maior. Read full article |Leave a comment Tags: Christian Dunker, clínica psicanalítica, psicanalista Categories: Artigos A fase do “Por Quê” 7 de agosto de 2012 Posted by admin Texto retirado do site Portal Ciência&Vida da Revista Psique no dia 07/08/2012 http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/74/a-fase-do-por-que-na-humanidade-selvagem-tudo-249999-1.asp Por Carlos São Paulo Na humanidade selvagem, tudo que hoje é simbólico era experimentado como literal. em Marcelo, Marmelo, Martelo, Ruth Rocha retrata esse estágio de consciência na doce infância Imagem: Shutterstock Meus filhos, na primeira infância, adoravam me ouvir contando histórias de Ruth Rocha. A mais cotada era Marcelo, marmelo, martelo. Depois, com os meus netos, percebi neles igual entusiasmo. O livro começava com os questionamentos do garoto Marcelo. Ele queria entender o motivo de a chuva cair, o mar não derramar, e o cachorro ter quatro patas. Tal situação me remeteu à “infância” da própria humanidade, quando os homens explicavam o mundo em que habitavam. (mais…) Read full article |Leave a comment Tags: criança, curiosidade, por quê Categories: Artigos O que é Histeria? 30 de julho de 2012 Posted by admin Texto retirado do site Mundo Estranho no dia 30/07/2012 às 16:46 http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-que-e-histeria Diferentemente do que muita gente pensa, não se trata de nenhuma reação emocional exagerada e, sim, de um distúrbio mental específico, que se manifesta fisicamente. Muito freqüente entre as mulheres do século XIX, apresenta sintomas como paralisia e anestesia, confusão mental, múltipla personalidade e apatia em relação ao mundo exterior – ou, ao contrário, aqueles ataques nervosos que os leigos associam à palavra histeria. O nome vem do grego hystéra, que significa útero. “Acreditava-se, na antigüidade, que a energia vital desse órgão se deslocava para outras regiões do corpo, causando os ataques. Já na Idade Média, eles eram considerados manifestação de bruxaria e não foram poucas as mulheres queimadas vivas por causa disso. A psiquiatria do século XIX, por sua vez, acreditava que a raiz devia estar em uma lesão orgânica, enquanto outros falavam em fingimento”, diz a psicanalista Maria Teresa Lemos, da Escola de Psicanálise de Campinas. (mais…) Read full article |Leave a comment Tags: Freud, histeria, Mundo Estranho, o que é? Categories: Artigos Traumas da Perda 23 de julho de 2012 Posted by admin Matéria retirada do Site Mente & Cérebro no dia 23/07/2012 às 15:15 – http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/traumas_da_perda.html No Brasil, em média, duas em cada dez crianças morrem ainda na barriga da mãe, em decorrência de aborto espontâneo. Mães e pais que passam por essa situação sofrem durante longo tempo, pois embora não tenham tomado seus bebês nos braços, desenvolvem com eles uma relação íntima de afeto. ©DIANA ONG/SUPERSTOCK/GETTY IMAGES por Anette Kersting “Estou na cozinha e de repente começo a sangrar. No entanto, hoje ao meio-dia ainda estava tudo bem no ultrassom. Tudo acontece muito rápido: meu marido chama a ambulância e vejo a poça de sangue embaixo de mim; tenho um pressentimento terrível. Acho que meu filho não vive mais. Fico desesperada. Quando os enfermeiros me deitam na maca, fico calma – tudo parece irreal. No hospital, todos que me atendem parecem agitados. Um médico me examina com um instrumento de metal gelado. A ultrassonografia confirma o que eu já sabia, mas insistia em não acreditar: meu bebê está morto. É preciso fazer logo uma curetagem. O médico diz que eu ainda poderei ter muitos filhos. Mas meu bebê está morto. Ele não pode ser substituído por nada nem por ninguém. Nunca.” (Depoimento de paciente do Hospital da Universidade de Münster que sofreu um aborto.) A morte do filho antes do nascimento joga a maioria das mães e pais em uma profunda crise. Se os médicos supunham há 30 anos que o melhor para os casais seria esquecer o evento o mais rápido possível, hoje – graças à psicologia e à psicanálise – se sabe que as reações à perda de um filho antes do nascimento só se diferenciam fracamente das que ocorrem em outros casos de luto. No entanto, sua magnitude raras vezes é percebida por aqueles que rodeiam as pessoas que passam por essa situação e, não raro, os homens encontram ainda menos espaço para viver sua tristeza. Dependendo do estudo, entre 10% e 30% das crianças morrem ainda antes de nascer. No fundo, isso pode ocorrer em qualquer período de uma gravidez. Até a 16a semana, os médicos falam em aborto precoce, depois; em aborto tardio. Mais da metade de todos os abortos espontâneos ocorre, no entanto, antes do terceiro mês de gravidez. E somente os bebês com peso corporal de 500 gramas que morrem antes ou durante o parto são considerados “crianças nascidas mortas”. Embriões menores não têm registro civil nem direito a enterro. (mais…) Read full article |Leave a comment Tags: aborto, mãe e filho, perda, relacionamento Categories: Artigos Tristeza, Solidão e Carência Podem Levar à Compulsão por Comida 17 de julho de 2012 Posted by admin Artigo retido da site Uol, no dia 17/07/2012 às 17:28 http://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2012/07/11/tristeza-solidao-e-carencia-podem-levar-a-compulsao-por-comida.htm Se os ataques de gula são associados a sentimentos negativos e frequentes, fique alerta Thinkstock Cléo Francisco Eventualmente, todo mundo se acaba de comer em uma churrascaria, na ceia de Natal, em um almoço de domingo com a família. Comer além do necessário e ficar com aquela sensação de estômago estufado acontece. Porém, se devorar alimentos em maior quantidade do que o normal for frequente e vier associado a sentimentos de culpa, atenção. “Pode ser baixa autoestima e dificuldade de lidar com questões difíceis, como frustrações, críticas e mágoas”, afirma a psiquiatra e terapeuta de família Liliane Kijner Kern, do Programa de Atenção a Transtornos Alimentares da Unifesp. (mais…) Read full article |Leave a comment Tags: ansiedade, comer Categories: Artigos Facebook, o Novo Espelho de Narciso 11 de julho de 2012 Posted by admin Matéria retirada do site Mente & Cérebro no dia 11/07/2012 às 14:33 http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/facebook_o_novo_espelho_de_narciso.html As mulheres estão se tornando maioria nas redes interativas; a vaidade e a necessidade de afirmação da identidade podem explicar o interesse feminino por esse recurso tecnológico © phil mccarten/reuters/latinstock por Isabelle Anchieta As mulheres gastam mais do que o dobro do tempo dos homens no Facebook: três horas por dia, enquanto eles gastam uma hora, em média. Entrar na rede social é a primeira ação diária de muitas delas, antes mesmo de irem ao banheiro ou escovarem os dentes. Uma atividade cumprida como um ritual todos os dias – e noites. Em um estudo, 21% admitiram que se levantam durante a noite para verificar se receberam mensagens. Dependência? Cerca de 40% delas já se declaram, sim, dependentes da rede. Elas são a maioria não só no Facebook (onde representam 57% dos usuários); também têm mais contas do que os homens em 84% dos 19 principais sites de relacionamentos. (mais…) Read full article |Leave a comment Tags: Facebook, feminino, narciso, vício Categories: Artigos Surras podem aumentar as chances de transtornos mentais 2 de julho de 2012 Posted by admin Texto retirado do site Uol, no dia 02/07/2012 http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/afp/2012/07/02/surras-podem-aumentar-as-chances-de-transtornos-mentais-diz-estudo.htm AFP, em Washington O estudo publicado em um periódico americano afirmou que as crianças que apanhavam tinham probabilidade entre 2% e 7% maior de sofrer de doenças mentais mais tarde Pessoas que levaram surras na infância têm maiores chances de sofrerem de doenças mentais quando adultas, incluindo distúrbios de humor e ansiedade, além de problemas com o uso abusivo de álcool e drogas, revelaram cientistas nesta segunda-feira (2). O estudo, liderado por pesquisadores canadenses, é o primeiro a examinar a relação entre problemas psicológicos e danos físicos, sem considerar agressões mais graves ou abuso sexual, para medir com mais eficácia os efeitos da punição física isoladamente. Aqueles que apanhavam quando crianças tinham uma probabilidade entre 2% e 7% maior de sofrer de doenças mentais mais tarde, indicou a pesquisa na publicação americana Pediatrics, baseada em uma investigação com mais de 600 adultos dos Estados Unidos. A taxa parece pequena, especialmente porque cerca de metade da população americana afirma ter apanhado na infância, No entanto, ela mostra que os castigos físicos podem trazer consequências futuras, dizem os especialistas. “O estudo é importante porque sugere uma reflexão sobre a paternidade”, afirma Victor Fornari, diretor da divisão de psiquiatria da criança e do adolescente do Sistema Único de Saúde Judaica de North Shore-Long Island, em Nova York. A taxa “não é dramaticamente maior, mas é maior, o que sugere que o castigo físico é um fator de risco para o desenvolvimento de distúrbios mentais na idade adulta”, disse Fornari, que não esteve envolvido no estudo. Pesquisas anteriores já mostraram que crianças abusadas fisicamente tinham mais distúrbios mentais quando adultos, e têm mais chances de apresentar um comportamento agressivo que crianças que não apanharam. Entretanto, esses estudos geralmente lidavam com abusos mais graves. A pesquisa atual exclui abuso sexual e qualquer abuso físico que deixe hematomas, cicatrizes ou ferimentos. Em vez disso, ele foca em outros castigos físicos, como empurrões, agarrões, tapas ou palmadas. Dois a 5% dos entrevistados sofriam de depressão, ansiedade, transtorno bipolar, anorexia ou bulimia, o que pode ser atribuído aos castigos na infância. Já 4% a 7% tinham problemas mais sérios, incluindo transtornos de personalidade, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e dificuldades de raciocínio. Os pesquisadores destacaram que o estudo não pode garantir que os castigos físicos tenham sido a causa das doenças em alguns adultos, e sim que há uma ligação entre as lembranças relacionadas a essas punições e uma maior incidência de problemas mentais. Os participantes foram perguntados: “Quando criança, com que frequência você era empurrado, agarrado, estapeado ou levava palmadas dos seus pais ou de outro adulto que vivia na sua casa?” Os que responderam “às vezes” ou mais foram incluídos na análise. Novas pesquisas poderão se aprofundar mais no assunto. Enquanto isso, o estudo serve para lembrar que existem outras opções para disciplinar as crianças, como o reforço positivo e a proibição de algum lazer, o que é mais aconselhado pelos pediatras. “O fato é que metade da população (americana) apanhou no passado. Há maneiras melhores de os pais disciplinarem as crianças”, disse Fornari. Read full article |Leave a comment Tags: No tags Categories: Artigos « Older Entries
Que tal fazermos uma boa discussão deste artigo? Psicanálise e feminismo TAGS: dossiê Relegado ao papel de enigma na teoria freudiana, o feminino constitui-se como potência crítica às estruturas hegemônicas nos estudos mais recentes Márcia Arán O debate sobre psicanálise e feminismo atravessou o século 20 e ganha novos matizes na aurora do século 21. Ora se configurando como campos completamente antagônicos, devido ao teor misógino das principais teses psicanalíticas sobre a sexualidade feminina, ora se aproximando devido ao número significativo não apenas de pacientes mulheres, mas também de mulheres analistas, o debate entre psicanálise e feminismo persiste como uma mola propulsora de teorizações sobre subjetividade e cultura. A abordagem psicanalítica da feminilidade deixa transparecer o enorme esforço da modernidade para recalcar o feminino e a experiência sensível em nome da civilização masculina e da razão. Para ilustrar esse debate, escolhemos duas passagens que fazem parte dessa história: o encontro de Freud com as mulheres histéricas, especialmente Bertha Pappenheim (Anna O.), no final do século 19, e o debate das feministas com a teoria de Jacques Lacan, especialmente Lucy Irigaray, em meados dos anos 1970. No final do século 19, Freud passa a receber pacientes histéricas que até então eram atendidas em hospitais psiquiátricos como “degeneradas”. A concepção dominante sobre a histeria provinha da confluência de duas teses clássicas: a primeira associava o padecimento histérico ao útero e à sexualidade e a segunda relacionava a histeria com as doenças neurológicas. Segundo Silvia Nunes, a mulher histérica era descrita como “perigosa e sedutora”, devido à suposta combinação de uma “fraqueza moral” com uma “sexualidade excessiva”. Foi preciso que Freud ouvisse essas mulheres para constatar que seu padecimento, longe de designar uma degenerescência, revelava antes o sofrimento íntimo do século 19. Vários historiadores localizam o surgimento da psicanálise no célebre encontro entre Freud e Anna O. Ela teria sido a primeira a recusar a hipnose e propor a “cura pela palavra”. Pode-se dizer que essa paciente contribuiu para a formação da psicanálise quase tanto quanto o seu primeiro terapeuta, Breuer. Por isso, anos mais tarde, o próprio Breuer alegaria que o tratamento de Bertha Pappenheim continha “a célula germinativa do conjunto da psicanálise”, cultivada por Freud. Assim, principalmente Anna O., mas também Emmy von N., Lucy R. Katharina, Elizabeth von R., que compõem os Estudos sobre a histeria, revelam o primeiro esboço de uma teoria psicanalítica sobre o inconsciente. A descrição feita por Freud pode ser considerada uma cartografia da insatisfação cotidiana de quem não se conformava com as amarras das obrigações familiares e com a monotonia da vida entre quatro paredes. Porém, de acordo com Regina Neri, se a cena inaugural da psicanálise está associada à potência do feminino, ao revelar a crise do projeto civilizatório calcado na razão e na dominação masculina, Freud imediatamente iria recuar diante dessa empreitada e se dedicar a pensar como moldar essa sexua-lidade disruptiva. A partir da elaboração do Complexo de Édipo, duas teses sobre a sexualidade feminina irão predominar. A primeira diz respeito à maneira pela qual a menina torna-se uma mulher, ou seja, uma trajetória que pressupõe não apenas a mudança da zona erógena do clitóris para a vagina, mas também o afastamento da mãe em nome do desejo pelo pai, a qual irá resultar na teoria sobre a inveja do pênis. A segunda refere-se à potencialidade narcísica das mulheres, que sustentará a noção de mulher fálica, perigo iminente de uma sexualidade excessiva que deverá ser domesticada pelo masculino. Essas premissas vão sustentar uma das afirmações mais polêmicas de Freud: a de que “as mulheres se opõem à civilização”. Com isso, a civilização deve ser um assunto de homens, exigindo certa economia subjetiva da qual as mulheres não seriam capazes. Como se a mesma trajetória que a civilização realizara em direção ao progresso fosse a de um indivíduo que se pretende homem. Assim, o processo de subjetivação na psicanálise passou a ser pensado como o afastamento da mãe em nome do pai. Uma das primeiras analistas a contestar a primazia do falo foi Karen Horney, para quem homens e mulheres teriam psicologias diferentes oriundas de influências culturais também distintas. Josine Müller e Melanie Klein, a partir de suas experiências clínicas, também alegaram que desde o início a vagina teria um papel importante no desenvolvimento da sexualidade feminina, procurando dar uma positividade à feminilidade. Nesse momento, outras analistas também tomaram a palavra para fortalecer os postulados freudianos, especialmente Hélène Deutsch, Jeanne Lampl de Grott e Marie Bonaparte. Seja como for, o que prevaleceu foi o modelo masculino, em que a sexualidade feminina era compreendida a partir da falta do pênis-falo. Assim, a mulher só pôde ser concebida como um sujeito marcado pela inferioridade ou relegada ao lugar do enigma e da não existência. Crise do masculino Décadas mais tarde, Lacan realizará o que se convencionou chamar de retorno a Freud e irá se deparar não somente com a crise do masculino, mas com uma incontestável diminuição do poder do pai nas sociedades modernas. Diante da constatação de que “o pai fora humilhado”, principalmente devido ao “protesto viril das mulheres” e a “feminização dos homens”, o autor conceberá a função paterna como a responsável pela manutenção da ordem simbólica. Essa proposição teve eco na comunidade psicanalítica e inclusive pretendeu que a própria ideia de cultura estivesse necessariamente ligada ao pai. Porém, se as críticas ao simbólico lacaniano e a sua ligação com o projeto familialista dos anos 1940 já são bastante conhecidas e aceitas, as teses lacanianas sobre as fórmulas de sexuação continuam a ser evocadas no debate atual sobre o feminino. Costuma-se dizer que Lacan avança ao postular, para além do impasse da teoria da inveja do pênis, a existência de um gozo a mais. Os princípios básicos dessa tese encontram-se no Seminário XX, no qual o autor parte de uma dissimetria entre os sexos pela descrição das posições sexuadas masculina (a ordem do Um, do significante ou do sujeito do inconsciente) e feminina (o Outro, que se expressa como ausência ou excesso). A partir daí ele demonstra como cada um desses campos se relaciona com o quantificador universal, ou seja, o falo. Resumidamente, Lacan interpreta o mito freudiano de “Totem e Tabu”, afirmando que um homem se define pela sua sujeição à lógica da castração. Isto se torna possível justamente porque, no inconsciente, “ao menos um”, o pai da horda, não seria castrado, já que gozava de todas as mulheres. No que se refere às mulheres, Lacan afirma que elas não seriam totalmente marcadas pela castração, já que não existiria um mito do lado feminino, ou seja, uma exceção, que as fizesse existir como significante. Dessa maneira, a mulher seria “não-toda” inscrita no simbólico e não existiria significante do sexo feminino na cultura. Porém, a lógica do “não-todo” conjugada com a afirmação de que “a mulher não existe” se mantém atrelada a uma concepção masculina de desejo. Assim, é porque os homens têm necessidade de colocar o feminino no lugar de enigma que são levados a afirmar que as mulheres se acham numa posição de excesso em relação ao simbólico. É com essa teoria que Lucy Irigaray, feminista, filósofa e psicanalista, vai dialogar de forma crítica em meados dos anos 1970. A autora empreende uma leitura atenta dos principais textos da filosofia e da psicanálise para mostrar como na lógica binária do Um e do Outro, descrita acima, o que fica de fora como uma exclusão constitutiva é justamente o feminino. Nesse sentido, não bastaria positivar o significante feminino: é necessário desconstruir a lógica falocêntrica para que surja outra economia subjetiva. Assim, repudiado nesse sistema normativo, o feminino se constituirá como uma potência crítica a essa lógica hegemônica. Irigaray parte do corpo das mulheres e da experiência feminina para demonstrar no livro O sexo que não é Um o sentido plural, múltiplo e difuso do prazer feminino e suas diversas possibilidades de simbolização. Esse novo pensamento sobre a diferença abriu caminho para várias psicanalistas realizarem uma crítica ao modelo da diferença sexual na psicanálise, por meio do esboço de formas de subjetivação que ocorrem no deslizamento entre o feminino e o singular, integrando parte do debate vivo dos estudos de gênero no contemporâneo.

Psicanálise e feminismo

Olá colegas!! Leiam este artigo.Que tal uma boa discussão? Psicanálise e feminismo TAGS: dossiê Relegado ao papel de enigma na teoria freudiana, o feminino constitui-se como potência crítica às estruturas hegemônicas nos estudos mais recentes Márcia Arán O debate sobre psicanálise e feminismo atravessou o século 20 e ganha novos matizes na aurora do século 21. Ora se configurando como campos completamente antagônicos, devido ao teor misógino das principais teses psicanalíticas sobre a sexualidade feminina, ora se aproximando devido ao número significativo não apenas de pacientes mulheres, mas também de mulheres analistas, o debate entre psicanálise e feminismo persiste como uma mola propulsora de teorizações sobre subjetividade e cultura. A abordagem psicanalítica da feminilidade deixa transparecer o enorme esforço da modernidade para recalcar o feminino e a experiência sensível em nome da civilização masculina e da razão. Para ilustrar esse debate, escolhemos duas passagens que fazem parte dessa história: o encontro de Freud com as mulheres histéricas, especialmente Bertha Pappenheim (Anna O.), no final do século 19, e o debate das feministas com a teoria de Jacques Lacan, especialmente Lucy Irigaray, em meados dos anos 1970. No final do século 19, Freud passa a receber pacientes histéricas que até então eram atendidas em hospitais psiquiátricos como “degeneradas”. A concepção dominante sobre a histeria provinha da confluência de duas teses clássicas: a primeira associava o padecimento histérico ao útero e à sexualidade e a segunda relacionava a histeria com as doenças neurológicas. Segundo Silvia Nunes, a mulher histérica era descrita como “perigosa e sedutora”, devido à suposta combinação de uma “fraqueza moral” com uma “sexualidade excessiva”. Foi preciso que Freud ouvisse essas mulheres para constatar que seu padecimento, longe de designar uma degenerescência, revelava antes o sofrimento íntimo do século 19. Vários historiadores localizam o surgimento da psicanálise no célebre encontro entre Freud e Anna O. Ela teria sido a primeira a recusar a hipnose e propor a “cura pela palavra”. Pode-se dizer que essa paciente contribuiu para a formação da psicanálise quase tanto quanto o seu primeiro terapeuta, Breuer. Por isso, anos mais tarde, o próprio Breuer alegaria que o tratamento de Bertha Pappenheim continha “a célula germinativa do conjunto da psicanálise”, cultivada por Freud. Assim, principalmente Anna O., mas também Emmy von N., Lucy R. Katharina, Elizabeth von R., que compõem os Estudos sobre a histeria, revelam o primeiro esboço de uma teoria psicanalítica sobre o inconsciente. A descrição feita por Freud pode ser considerada uma cartografia da insatisfação cotidiana de quem não se conformava com as amarras das obrigações familiares e com a monotonia da vida entre quatro paredes. Porém, de acordo com Regina Neri, se a cena inaugural da psicanálise está associada à potência do feminino, ao revelar a crise do projeto civilizatório calcado na razão e na dominação masculina, Freud imediatamente iria recuar diante dessa empreitada e se dedicar a pensar como moldar essa sexua-lidade disruptiva. A partir da elaboração do Complexo de Édipo, duas teses sobre a sexualidade feminina irão predominar. A primeira diz respeito à maneira pela qual a menina torna-se uma mulher, ou seja, uma trajetória que pressupõe não apenas a mudança da zona erógena do clitóris para a vagina, mas também o afastamento da mãe em nome do desejo pelo pai, a qual irá resultar na teoria sobre a inveja do pênis. A segunda refere-se à potencialidade narcísica das mulheres, que sustentará a noção de mulher fálica, perigo iminente de uma sexualidade excessiva que deverá ser domesticada pelo masculino. Essas premissas vão sustentar uma das afirmações mais polêmicas de Freud: a de que “as mulheres se opõem à civilização”. Com isso, a civilização deve ser um assunto de homens, exigindo certa economia subjetiva da qual as mulheres não seriam capazes. Como se a mesma trajetória que a civilização realizara em direção ao progresso fosse a de um indivíduo que se pretende homem. Assim, o processo de subjetivação na psicanálise passou a ser pensado como o afastamento da mãe em nome do pai. Uma das primeiras analistas a contestar a primazia do falo foi Karen Horney, para quem homens e mulheres teriam psicologias diferentes oriundas de influências culturais também distintas. Josine Müller e Melanie Klein, a partir de suas experiências clínicas, também alegaram que desde o início a vagina teria um papel importante no desenvolvimento da sexualidade feminina, procurando dar uma positividade à feminilidade. Nesse momento, outras analistas também tomaram a palavra para fortalecer os postulados freudianos, especialmente Hélène Deutsch, Jeanne Lampl de Grott e Marie Bonaparte. Seja como for, o que prevaleceu foi o modelo masculino, em que a sexualidade feminina era compreendida a partir da falta do pênis-falo. Assim, a mulher só pôde ser concebida como um sujeito marcado pela inferioridade ou relegada ao lugar do enigma e da não existência. Crise do masculino Décadas mais tarde, Lacan realizará o que se convencionou chamar de retorno a Freud e irá se deparar não somente com a crise do masculino, mas com uma incontestável diminuição do poder do pai nas sociedades modernas. Diante da constatação de que “o pai fora humilhado”, principalmente devido ao “protesto viril das mulheres” e a “feminização dos homens”, o autor conceberá a função paterna como a responsável pela manutenção da ordem simbólica. Essa proposição teve eco na comunidade psicanalítica e inclusive pretendeu que a própria ideia de cultura estivesse necessariamente ligada ao pai. Porém, se as críticas ao simbólico lacaniano e a sua ligação com o projeto familialista dos anos 1940 já são bastante conhecidas e aceitas, as teses lacanianas sobre as fórmulas de sexuação continuam a ser evocadas no debate atual sobre o feminino. Costuma-se dizer que Lacan avança ao postular, para além do impasse da teoria da inveja do pênis, a existência de um gozo a mais. Os princípios básicos dessa tese encontram-se no Seminário XX, no qual o autor parte de uma dissimetria entre os sexos pela descrição das posições sexuadas masculina (a ordem do Um, do significante ou do sujeito do inconsciente) e feminina (o Outro, que se expressa como ausência ou excesso). A partir daí ele demonstra como cada um desses campos se relaciona com o quantificador universal, ou seja, o falo. Resumidamente, Lacan interpreta o mito freudiano de “Totem e Tabu”, afirmando que um homem se define pela sua sujeição à lógica da castração. Isto se torna possível justamente porque, no inconsciente, “ao menos um”, o pai da horda, não seria castrado, já que gozava de todas as mulheres. No que se refere às mulheres, Lacan afirma que elas não seriam totalmente marcadas pela castração, já que não existiria um mito do lado feminino, ou seja, uma exceção, que as fizesse existir como significante. Dessa maneira, a mulher seria “não-toda” inscrita no simbólico e não existiria significante do sexo feminino na cultura. Porém, a lógica do “não-todo” conjugada com a afirmação de que “a mulher não existe” se mantém atrelada a uma concepção masculina de desejo. Assim, é porque os homens têm necessidade de colocar o feminino no lugar de enigma que são levados a afirmar que as mulheres se acham numa posição de excesso em relação ao simbólico. É com essa teoria que Lucy Irigaray, feminista, filósofa e psicanalista, vai dialogar de forma crítica em meados dos anos 1970. A autora empreende uma leitura atenta dos principais textos da filosofia e da psicanálise para mostrar como na lógica binária do Um e do Outro, descrita acima, o que fica de fora como uma exclusão constitutiva é justamente o feminino. Nesse sentido, não bastaria positivar o significante feminino: é necessário desconstruir a lógica falocêntrica para que surja outra economia subjetiva. Assim, repudiado nesse sistema normativo, o feminino se constituirá como uma potência crítica a essa lógica hegemônica. Irigaray parte do corpo das mulheres e da experiência feminina para demonstrar no livro O sexo que não é Um o sentido plural, múltiplo e difuso do prazer feminino e suas diversas possibilidades de simbolização. Esse novo pensamento sobre a diferença abriu caminho para várias psicanalistas realizarem uma crítica ao modelo da diferença sexual na psicanálise, por meio do esboço de formas de subjetivação que ocorrem no deslizamento entre o feminino e o singular, integrando parte do debate vivo dos estudos de gênero no contemporâneo.