domingo, 26 de fevereiro de 2012

Primeira e Segunda Tópica de Freud
e os Três registros de Lacan: Real -Simbólico-Imaginário

Quando Freud propõe a teoria topográfica, fica muito claro que ele vai tomar como axial a explicação do conflito intrapsíquico que é, muito especificamente, um conflito entre desejos sexuais e forças inibidoras, sendo que, tal conflito, vai desencadear a resistência característica em todo o processo analítico. Sua teoria mostrou ser uma descoberta importantíssima, pois apresenta a mente humana dividida em sistemas que ele demarcou.
Inconsciente – uma grandiosa fonte dotada de energia inconsciente; absolutamente livre, já que, caoticamente, age em cada ser humano, ora se apresentando como um feixe de representações que se mantêm à margem da consciência, ora como um invasor tumultuando a mente, despeja os seus derivados na consciência . Ele se caracteriza por serem os seus elementos inacessíveis à consciência; funcionar de acordo com as regras do processo primário; serem os seus resíduos mnésicos não-verbais; operar nos termos do princípio do prazer; estar relacionado com a ida instintual; caracterizar-se por um caráter infantil; ser atemporal.
Pré-consciente – compreende os elementos acessíveis à consciência. Refere-se a conteúdos que não se encontram presentes no campo atual da consciência, o que, então, o torna descritivamente inconsciente, Para que um elemento do sistema Inconsciente se torne consciente, é indispensável que, primeiro se torne pré-consciente, realizado pela associação a resíduos verbais correspondentes. Dessa forma, os elementos do Pcs, particularmente os resíduos mnésicos pertencentes a este sistema, são verbais por natureza.
Consciente – a percepção consciente é limitada a sensações provindas do mundo exterior; e sentimentos (afetos, emoções, pensamentos, lembranças, angústias etc) contidos no sistema Pcs. Para que um elemento do sistema Ics se torne consciente, é absolutamente indispensável que venha a receber catexia.
Freud percebe que na teoria Topográfica não havia correspondência entre certos fatos encontráveis no conflito psíquico. Então, cria a Teoria Estrutural com a finalidade de alcançar a dita correspondência, pela divisão da mente, de acordo com a experiência comprobatória de uma associação das funções psíquicas entre si, quando de situações de conflitos, ou seja, quando as muitas expressões do Ego, ante os conflitos, se apresentam desconexões, ou mesmo em nítida oposição.
Isto posto, a teoria Estrutural divide a mente em três grupos de funções que foram denominados de Id; Ego; e Superego, uma divisão que é feita de tal forma, que os principais tipos de conflitos mentais com os quais estejamos familiarizados, podem ser descritos como ocorrendo entre o Id de um lado, e o Ego e o superego do outro, ou entre o Ego e o Superego.
Id – é uma estrutura, é formado pelos representantes mentais dos impulsos instintuais e é, também, uma poderosa fonte de energia mental para todo ao aparelho psíquico Compõe-no também, os desejos, que exigem gratificação, o que resulta em impelir o Ego às ações, tendo-se, então aí, as suas duas características essenciais: ser formado pela energia e pelos representantes mentais dos impulsos. O id é regido pelo princípio do prazer.
Ego – é aquela parte da psiquê que se relaciona com o meio ambiente, funciona como mediador, integrador, harmonizador entre as pulsões do Id, as exigências, ameaça do Superego e as demandas da realidade exterior, com funções essenciais, na maior parte consciente para relacionarem-se com o mundo exterior tais como: percepção, pensamento, memória, atenção, antecipação, discriminação, juízo crítico, ação motora, e também, funções mais complexas, na maior parte inconsciente como: produção de angústias, mecanismos de defesa, fenômenos de identificação, formação de símbolos e como sede de representações que determinam a imagem que o sujeito tem de si mesmo, que estruturam o seu sentimento de identidade e de auto-estima.
Superego – define-se como um grupo de funções psíquicas ligado às aspirações ideais e às exigências e proibições morais. Sendo uma das divisões da mente, tem a sua origem na identificação com as figuras parentais, particularmente com os aspectos éticos e morais de ambos.
Assim sendo, como bem observou Freud, a acessibilidade à consciência não é um bom critério para basear a construção de sistemas psicológicos, então, a partir dessas considerações, ele propôs substituir a Teoria Topográfica que o critério é, meramente, o da acessibilidade à consciência, pela Teoria Estrutural que tem como critério, outro princípio: o do conflito de funções entre os instintos, a moralidade, a realidade e o Ego.
Na teoria lacaniana, o aparelho psíquico é uma estrutura única composta pelo Real e pelos registros do Imaginário e do simbólico, que se configuram em torno do furo inicial do objeto a. A tripartição estrutural real-simbólica-imaginário (SIR) estabelecida por Lacan desde a conferência pronunciada em julho de 1953 na fundação da Sociedade Francesa de Psicanálise “O Simbólico, o imaginário e o real” – foi objeto de contínua investigação até o fim de seu seminário. Essa tripartição, embora não compareça nomeadamente na obra de Freud, dela retira todo o seu alcance, de tal modo que, como afirmou Moustapha Safouan num artigo de imprensa publicado quando da morte de Lacan, em 1981, sem ela dificilmente se poderia entender a essência das teses freudianas sobre o psiquismo. Pode-se dizer que os três registros psíquicos dessa tripartição concernem três grandes segmentos da descoberta freudiana, como se as mais diferentes regiões da vasta obra de Freud pudessem confluir, todas elas, para cada um desses registros nomeados por Lacan. O próprio Lacan afirma, no seminário sobre Os escritos técnicos de Freud, que RSI são “categorias elementares sem as quais não podemos distinguir nada na nossa experiência”. Chegou a dizer também que “Freud não tinha do imaginário, do simbólico e do real a noção que ele tinha, mas mesmo assim, tinha uma suspeita deles... e que na verdade, pode extrair os três registros do discurso de Freud com paciência e tempo, começando pelo imaginário, depois mastigou a história do simbólico tendo como referência a lingüística e percebeu o famoso real, sob a própria forma do nó borromeano.
Na conferencia de 1953, SIR são apresentados como três registros muito distintos e essenciais da realidade humana. O Simbólico tem a ver com o saber em jogo na própria experiência psicanalítica, ele é responsável pelas “transformações tão profundas para o sujeito”. A partir da constatação de que a análise retira sua eficácia do fato de que “se desenvolve integralmente em palavras” O registro do Simbólico tem, na linguagem, sua expressão mais concreta, regendo o sujeito do inconsciente. Ela é a causa e o efeito da cultura, onde a lei da palavra interdita o incesto e nos torna completamente diferentes dos animais. Nos trabalhos de Freud, a importância do simbólico pode ser encontrada nos textos que ilustram o funcionamento do inconsciente, onde a casuística prova a maneira como é estruturado. Quanto ao Imaginário, surge para descrever apenas os ciclos instituais dos animais, nos quais se pode ver ocorrer certo número de deslocamentos, que significam um esboço de comportamento simbólico. O Real é apresentado desde já como “aquela parte dos sujeitos que nos escapa na análise” como aquilo que constitui o limite de nossa experiência, é sempre aludido pela negativa: seria aquilo que, carecendo de sentido, não pode ser simbolizado, nem integrado imaginariamente. Aquém ou além de qualquer limite, seria incontrolável e fora de cogitação. O real é o que retorna sempre ao mesmo lugar.
Muitos anos depois Lacan mostra que os três registros Real-Simbólico-Imaginário não podem ser isolados, uma vez que se apresentam unidos de modo indissociável na topologia do nó Borromeano em que os elos, estão amarrados uns aos outros de forma tal que, se cortamos apenas um deles, todos os outros se desligam simultaneamente.
Vale ressaltar que houve alteração na ordem das letras de SIR a RSI. Na primeira a primazia do Simbólico e na segunda a do Real. Da tríade dos registros ocorrida entre a primeira conferência em que Lacan pronunciava sobre ela em 1953, “o Símbolo, o imaginário e o real”, nesse período esteve aderido à idéia de destacar os elementos que constituem a estrutura do significante e sua lógica particular. O seminário de 1974-75, RSI, por si só já diz alguma coisa dos avanços produzidos por Lacan a esse respeito que recaiu nitidamente sobre o real enquanto o registro que rege e ordena a estrutura: a partir do real, presentifica-se o simbólico; a partir do simbólico, presentifica-se o imaginário. Mas a partir do imaginário também se presentifica o real.
Contudo, a alteração da ordem das letras trouxe certamente uma maior precisão à concepção lacaniana da estrutura. Vejamos: RSI: R - tudo começa a partir do real, ele constitui a base da estrutura do sujeito falante, S - o simbólico tem seu lugar efetivamente a partir do real. I– o efeito da introdução do simbólico é a possibilidade de constituição de imaginário, originalmente faltoso para o sujeito falante.
Essa tripartição para Lacan, não havia divórcio entre o prolongado trabalho com os nós e a prática psicanalítica. Cada uma das três categorias é autônoma e diferente das outras, embora todas elas estejam amarradas de forma interdependente.



Estudo com base na bibliografia de Lacan e Freud
Tema para discussão no grupo de estudo

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