terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

INCONSCIENTE

Sigmund Freud foi um intelectual que aliava a parte teórica à prática. Escritor compulsivo e extremamente produtivo, foi colocando suas teorias num estilo próprio e característico, em estilo científico, mas sem exagerar nas citações a outros pensadores e cientistas.
FREUD, Sigmund. Obras Completas Psicológicas de Sigmund Freud. Edição
Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1980.


Obra resenhada por Leide

Podemos afirmar, da existência de um estado psíquico inconsciente, quando em um dado momento qualquer, o conteúdo da consciência é muito pequeno, de modo que a maior parte do que chamamos conhecimento consciente deve permanecer, por consideráveis períodos de tempo, num estado de latência, isto é, deve estar psiquicamente inconsciente. Quando todas as nossas lembranças latentes são levadas em consideração, fica totalmente incompreensível que a existência do inconsciente possa ser negada.
A resposta óbvia a isso é a de que uma lembrança latente é, pelo contrário, um resíduo inquestionável de um processo psíquico.
O autor vem justificar o conceito de INCONSCIENTE como um direito de supor a existência de algo mental inconsciente, e de empregar tal suposição visando às finalidades do trabalho científico, que tem sido vastamente contestado. Para ele, responder que a suposição a respeito do inconsciente, é necessária e legítima, e que dispõe de numerosas provas de sua existência. Ele diz que é necessária porque os dados da consciência apresentam um número muito grande de lacunas; tanto nas pessoas sadias como nas doentes ocorrem com freqüência atos psíquicos que só podem ser explicados pela pressuposição de outros atos, para os quais, não obstante, a consciência não oferece qualquer prova. Na psicanálise, não tem outra opção senão afirmar que os processos mentais são inconscientes em si mesmos, e assemelhar a percepção deles por meio da consciência
percepção do mundo externo por meio dos órgãos sensoriais.Assim o autor do artigo nos passa que: a repressão não visa a destruição da idéia que representa um instinto, mas evitar que se torne consciente; Enquanto inconsciente, pode produzir efeitos, até mesmo atingir a consciência; o reprimido não abrange tudo o que é inconsciente ; só tomamos conhecimento de algo inconsciente através da tradução para algo consciente e que o trabalho psicanalítico, que lida com as resistências
O inconsciente abrange, por um lado, atos que são meramente latentes, temporariamente inconscientes, mas que em nenhum outro aspecto diferem dos atos conscientes, e, por outro lado, abrange processos tais como os reprimidos, que, caso se tornassem conscientes, estariam propensos a sobressair num contraste mais grosseiro com o restante dos processos conscientes.
As descobertas positivas da psicanálise, pode-se dizer que, em geral, um ato psíquico passa por duas fases quanto a seu estado, entre as quais se interpõe uma espécie de teste (censura). Na primeira fase, o ato psíquico é inconsciente e pertence ao sistema Ics; se, no teste, for rejeitado pela censura, não terá permissão para passar à segunda fase; diz-se então que foi ‘reprimido’, devendo permanecer inconsciente. Se, porém, passar por esse teste, entrará na segunda fase e, subseqüentemente, pertencerá ao segundo sistema, que chamaremos de sistema Cs. Em vista dessa capacidade de se tornar consciente, denomina o sistema Cs. de ‘pré-consciente’. Por ora o autor diz que se contenta em ter em mente que o sistema Pcs. participe das características do sistema Cs., e que a censura rigorosa exerca sua função no ponto de transição do Ics. para o Pcs. (ou Cs.)
Na topografia psíquica, no momento, nada tem que ver com a anatomia; refere-se não a localidades anatômicas, mas a regiões do mecanismo mental, onde quer que estejam situadas no corpo. A esse respeito, o autor coloca que seu trabalho fica desembaraçado, podendo prosseguir em função de suas próprias necessidades.Para tanto, ele vem lembrar que, no pé em que as coisasestão, as hipóteses nada mais exprimem do que ilustrações gráficas. A primeira das duas possibilidades que considera — isto é, que a fase Cs. de uma idéia acarreta um novo registroda idéia, situado em outro lugar —, é sem dúvida a mais grosseira, embora também mais conveniente. A segunda hipótese — a de uma mudança de estado meramente funcional — é àpriori mais provável, embora menos plástica, menos fácil de manipular. À primeira hipótese, a topográfica, está estreitamente vinculada a de uma separação topográfica dos sistemas Ics. e Cs. e também a possibilidade de que uma idéia possa existir simultaneamente em dois lugares no mecanismo mental — na realidade, a possibilidade de que, se não estiver inibida pela censura, ela avançará regularmente de uma posição para outra, sem perder talvez sua primeira localização ou registro.
Do ponto de vista do autor do artigo, um instinto nunca pode tornar-se objeto da consciência — só a idéia que o representa. Além disso, mesmo no inconsciente, um instinto não pode ser representado de outra forma a não ser por uma idéia. Se o instinto não se prendeu a uma idéia ou não se manifestou como um estado afetivo, nada se pode conhecer sobre ele. Não obstante, quando se fala de um impulso instintual inconsciente ou de um impulso instintual reprimido, a imprecisão da fraseologia é inofensiva. Pode apenas referir a um impulso instintual cuja representação ideacional é inconsciente, pois nada mais entra em consideração. Deve esperar que a resposta à questão dos SENTIMENTOS, EMOÇÕES E AFETOS INCONSCIENTES seja dada com igual facilidade. Por certo, faz parte da natureza de uma emoção que esteja cônscio dela, isto é, que ela se torne conhecida pela possibilidade do atributo da inconsciência seria completamente excluída no tocante às emoções,sentimentos e afetos.
Na prática psicanalítica, porém, está habituado a falar de amor, ódio, ira etc. inconscientes, e achar impossível evitar até mesmo a estranha conjunção ‘consciência inconsciente de culpa’, ou uma ‘ansiedade inconsciente’ paradoxal.
A importância do sistema Cs. (Pcs.) no que se refere ao acesso à liberação do afeto e à ação, permite-nos também compreender o papel desempenhado pelas idéias substitutivas na determinação da forma assumida pela doença. É possível ao desenvolvimento do afeto proceder
diretamente do sistema Ics.; nesse caso, o afeto sempre tem a natureza de ansiedade, pela qual
são trocados todos os afetos ‘reprimidos’. Com freqüência, contudo, o impulso instintual tem de
esperar até que encontre uma idéia substitutiva no sistema Cs. O desenvolvimento do afeto pode
então provir desse substituto consciente e a natureza desse substituto determina o caráter qualitativo do afeto.
Afirmamos que na repressão ocorre uma ruptura entre o afeto e a idéia à qual ele pertence, e que cada um deles então passa por vicissitudes isoladas. Descritivamente, isso é incontestável; na realidade, porém, o afeto, de modo geral, não se apresenta até que o irromper de uma nova apresentação no sistema Cs. tenha sido alcançado com êxito.

No que se refere a TOPOGRAFIA E DINÂMICA DA REPRESSÃO o autor chega à conclusão de que a repressão constitui essencialmente em fazer uma nova tentativa de descrever o processo com maiores detalhes. Segundo ele, deve tratar-se de uma retirada da catexia; mas a questão é: em que sistema ocorre a retirada e a que sistema pertence a catexia retirada? A idéia reprimida permanece capaz de agir no Ics., e deve, portanto, ter conservado sua catexia. O que foi retirado deve ter sido outra coisa. Tomemos o caso da repressão propriamente dita (‘pressão posterior’) quando afeta uma idéia pré-consciente ou mesmo consciente. Aqui, a repressão só pode consistir em retirar da idéia da catexia (pré) que pertence ao sistema Psc. A idéia portanto, ou permanece não catexizada, ou recebe a catexia do Ics., ou retém a catexia do Ics. que já possuía. Assim, há uma retirada da catexia pré-consciente, uma retenção de catexia inconsciente, ou uma substituição da catexia pré-inconsciente por uma inconsciente Mas esse processo de retirada da libido não é suficiente para tornar compreensível uma outra característica da repressão.
Na histeria da ansiedade, uma primeira fase do processo é comumente desprezada e talvez, de fato, passe despercebida; mediante detida observação, contudo, ela pode ser claramente discernida. Consiste no surgimento da ansiedade sem que o indivíduo saiba o que teme.— Na segunda fase da histeria de ansiedade, portanto, a anticatexia proveniente do sistema Cs. leva à formação do substituto. A cada aumento da excitação instintual, a muralha protetora em torno da idéia substitutiva deve ser deslocada um pouco mais para fora. À totalidade dessa construção, que é erigida de forma análoga nas demais neuroses, denominamos fobia. A fuga de uma catexia consciente da idéia substitutiva se manifesta nas evitações, nas renúncias e nas proibições, por meio das quais reconhecemos a histeria de ansiedade. Já na terceira fase repete o trabalho da segunda numa escala mais ampla. O sistema Cs. se defende agora da ativação da idéia substitutiva por meio de uma anticatexia do seu ambiente, da mesma maneira pela qual, anteriormente, se defendia da emergência da idéia reprimida por meio de uma catexia da idéia substitutiva. Desse modo, prossegue a formação de substitutos por deslocamento.
O ego comporta-se como se o perigo de um desenvolvimento da ansiedade o ameaçasse, não a partir da direção de um impulso instintual, mas da direção de uma percepção, tornando-se assim capaz de reagir contra esse perigo externo através das tentativas de fuga substitutiva na histeria de ansiedade. Dessa circunstância o autor conclui que a quantidade de energia despendida pelo sistema Cs.

Na repressão não precisa ser tão grande quanto a energia catexial do sintoma, pois a força da repressão é medida pela quantidade de anticatexia despendida, ao passo que o sintoma é sustentado não somente por essa anticatexia, como também pela catexia instintual oriunda do
sistema Ics. que se acha condensada no sintoma.
Quanto à neurose obsessiva, é preciso acrescentar é que a anticatexia proveniente do sistema Cs. se coloca da forma mais conspícua no primeiro plano. É isso que, organizado como uma formação de reação, provoca a primeira repressão, constituindo depois o ponto no qual a idéia reprimida irrompe. Dessa forma podemos aventurar a suposição de que é devido à predominância da anticatexia e à ausência de descarga que o trabalho de repressão parece muito menos bem-sucedido na histeria de ansiedade e na neurose obsessiva do que na histeria de conversão.
‘ Quanto as CARACTERÍSTICAS ESPECIAIS DO SISTEMA Ics. Segundo o autor, a distinção que se estabelece entre os dois sistemas psíquicos ganha novo significado quando os processos em um dos sistemas, o Ics., apresenta características que
não encontra no sistema imediatamente acima dele. O núcleo do Ics. consiste em representantes instintuais que procuram descarregar sua catexia em impulsos carregados de desejo que são coordenados entre si, e se influenciam mutuamente, e estão isentos de contradição mútua. Quando dois impulsos carregados de desejo, cujas finalidades são incompatíveis, se tornam simultaneamente ativos, um dos impulsos não reduz ou cancela o outro, mas os dois se combinam para formar uma finalidade intermediária, um meio termo.
Os processos do sistema Ics. são intemporais; isto é, não são ordenados temporalmente, não se alteram com a passagem do tempo; não têm absolutamente qualquer referência ao tempo, a referência ao tempo vincula-se, mais uma vez, ao trabalho do sistema Cs. a intemporalidade e a substituição da realidade externa pela psíquica — tais são as características que podemos esperar encontrar nos processos pertencentes ao sistema Ics.
Quando um processo passa de uma idéia para outra, a primeira idéia conserva uma parte de sua catexia e apenas uma pequena parcela é submetida a deslocamento. Os deslocamentos e as condensações, tais como ocorrem no processo primário, são excluídos ou bastante restringidos. Essa circunstância levou Breuer a presumir a existência de dois estados diferentes de energia catexial na vida mental: um em que a energia se acha tonicamente ‘vinculada’ e outro no qual é livremente móvel e pressiona no sentido da descarga. Para o autor a distinção representa a compreensão interna (insight) mais profunda que se alcançou até agora a respeito da natureza da energia nervosa,

Segundo o autor, a COMUNICAÇÃO ENTRE OS DOIS SISTEMS, seria não obstante errôneo imaginar que o Ics. permanece em repouso enquanto todo o trabalho da mente é realizado pelo Pcs. Para ele, é o contrário, o Ics. permanece vivo e capaz de desenvolvimento,mantendo grande número de outras relações com o Pcs., entre as quais a da cooperação. Ele aponta que, deve-se dizer que o Ics. continua naquilo que conhecemos como derivados, que é acessível às impressões da vida, que influencia constantemente o Pcs., e que, por sua vez, está inclusive sujeito à influência do Pcs.
Para o autor deste artigo, o Ics. é rechaçado, na fronteira do Pcs., pela censura, mas os derivados do Ics. podem contornar essa censura, atingir um alto grau de organização e alcançar certa intensidade de catexia no Pcs. Quando, contudo, essa intensidade é ultrapassada e eles tentam forçar sua passagem para a consciência, são reconhecidos como derivados do Ics. e outra vez reprimidos na fronteira da censura, entre o Pcs. e o Cs. Assim, a primeira dessas censuras é exercida contra o próprio Ics., e a segunda, contra os seus derivados do Pcs. Poder-se-ia supor que no decorrer do desenvolvimento individual a censura deu um passo à frente. No tratamento psicanalítico fica provada, sem sombra de dúvida, a existência da segunda censura, localizada entre os sistemas Pcs. e Cs. Pedimos ao paciente que forme numerosos derivados do Ics., fazemos com que ele se comprometa a superar as objeções da censura a essas formações pré-conscientes que se tornam conscientes, e, pondo abaixo essa censura, desbravamos o caminho para ab-rogação da repressão realizada pela anterior. A isso acrescentemos que a existência da censura entre o Pcs e o Cs. nos ensina que o tornar-se consciente não constitui um mero ato de percepção, sendo provavelmente também uma hipercatexia, um avanço ulterior na organização psíquica.
Os sistemas se comunicam entre si mais extensivamente. Uma parcela dos processos que lá são excitados passa através do Ics. e atinge o desenvolvimento psíquico mais elevado no Cs.; outra parcela é retida como Ics. Mas o Ics. é também afetado por experiências oriundas da percepção externa. O conteúdo do sistema Pcs. (ou Cs.) deriva em parte da vida instintual (por intermédio doIcs.) e em parte da percepção.
O autor afirma que os processos desse sistema podem exercer influência direta sobre o Ics.; o exame de casos patológicos muitas vezes revela uma incrível independência e uma falta de suscetibilidade à influência por parte do Ics. Uma completa divergência de suas tendências, uma total separação dos dois sistemas, é o que acima de tudo caracteriza uma condição de doença. O tratamento psicanalítico se baseia numa influência do Ics. a partir da direção do Cs., e pelo menos demonstra que, embora se trate de uma tarefa laboriosa, não é impossível. Os derivados do Ics. que agem como intermediários entre os dois sistemas desvendam o caminho, conforme já dissemos para que isso se realize.
Contudo, pode presumir com segurança segundo o autor que uma alteração espontaneamente efetuada no Ics. a partir da direção do Cs. constitui um processo difícil e lento.
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