quinta-feira, 6 de setembro de 2012

sofrimento psíquico do professor





“Transtornos afastam docentes das salas de aula”. Excesso de trabalho, falta de condições e decepção com o desinteresse dos alunos impactam na saúde de professores, segundo especialistas. Apenas no Distrito Federal, cerca de 2% dos professores não atuam devido a doenças emocionais. (Correio Braziliense).

Nos últimos anos, houve bastante interesse por partes dos pesquisadores em desenvolver  estudos acerca da saúde mental e distúrbios comportamentais devido o grande volume de afastamentos do trabalho que tem como origem o estresse e outras doenças psíquicas. Percebo, no mundo globalizado, um aumento excessivo de pessoas com transtornos emocionais e mentais, especialmente em alguns ambientes de trabalho.

Desde a proposta de Freud de fazer da Psicologia uma ciência natural, a contribuição da Psicanálise se dá com o estudo do comportamento em função da história individual, em termos de acontecer humano. Com Freud, um fato psicológico adquiriu movimento, integrou-se em um processo porque se relacionou com os outros fatos psicológicos da mesma pessoa, no plano atual e histórico. O que temos em Freud é a valorização da natureza ativa dos processos inconscientes, sua qualidade dinâmica, influenciando e modelando o pensamento e a ação conscientes (PEDROZA e ALMEIDA, 1994).

Ser professor não é apenas ser um mediador entre o aluno e o conhecimento já construído socialmente. Ser professor é mais do que isso, é estar envolvido na trama das relações no âmbito escolar. O sofrimento psíquico será abordado enquanto sintoma que aponta para um desconforto subjetivo e singular e não como uma doença orgânica. O professor é um sujeito também que enfrenta dificuldades, que se submete a riscos, que se encontra dividido entre seus medos e seus desejos, sua história de vida e é vítima de seus contrastes. 

Como gestora por quase 15 anos da rede Pública do Distrito Federal, tenho testemunhado o quanto o professor é pressionado pela sociedade em dar conta das práticas pedagógicas, o quanto ele sofre por não realizar o que  idealiza, causando frustração, medo, ansiedade na sua profissão,  principalmente, por se encontrarem inseridos em uma sociedade que se transforma muito rapidamente e que exige constantes mudanças e adaptações. Percebo, também, que esse sofrimento se manifesta no âmbito subjetivo e social no ambiente escolar, sob a forma recorrente de depressão, estresse e abandono da sala de aula, por se perceberem incapazes de responder as demandas contraditórias presente no cotidiano escolar. Nesse contexto, eles se sentem insatisfeitos por não conseguirem dar conta das exigências que lhe são impostas no campo profissional por mais que se esforcem, não consegue alcançar o nível de excelência exigido pela sociedade e não quer abrir mão de ideais de ser um bom professor, portanto, acaba adoecendo. Por outro lado, percebo  que a escola também, não tem nenhum tipo de planejamento no cotidiano escolar do qual fazem parte e nem ações compartilhadas para a execução de estratégias pedagógicas que possam melhorar as condições do exercício pedagógico, que é o trabalho do professor. Muitas vezes, o estresse dos professores acontece devido a uma série de demandas do próprio ambiente de trabalho e também  das externas.


Souza (2002) aponta que todos os que são professores sofrem a demolição tanto profissional quanto pessoal da experiência devastadora de ser confrontado com o desinteresse dos alunos, o que, de certa forma, os destitui do lugar de mestre. Os alunos que se recusam a aprender denotam tanto o próprio fracasso quanto o do professor.

                        Dejours (1987), as situações de medo e tédio são responsáveis pela emergência do sofrimento, que se reflete em sintomas como a ansiedade e a insatisfação.  O autor relaciona a esses sintomas à incoerência entre o conteúdo da tarefa e as aspirações dos trabalhadores, a desestruturação das relações psicoafetivas com os pares, a despersonalização com o produto e sentimentos de frustração e adormecimento intelectual. As mudanças ocorridas no mundo do trabalho são  responsáveis pela sobrecarga e, associada à exigência pelo, o que torna o sofrimento inevitável.

            Dejours (1994), faz uma análise  das relações entre trabalho, prazer e sofrimento com base na organização do trabalho. Para o autor, existe um paradoxo psíquico do trabalho; este é, para uns, fonte de equilíbrio; para outros, causa fadiga e sofrimento. Assim, o trabalho é equilibrado quando traz consigo a possibilidade da diminuição da carga psíquica e é extenuante quando não possibilita essa diminuição.

        
            Kupfer (2001) alerta que “ o mal - estar funda a civilização, as idéias de progresso e avanço civilizatórios são incompatíveis com a condição humana cuja  base são nossas piores disposições, cujo objeto de desejo está para sempre perdido  e cujo fim é a morte. Somos constituídos por uma falta que nos funda, mas nos condena a insatisfação estrutural e à infelicidade”(p.14)

Outra boa discussão!!

Um comentário:

  1. hoje já existem vários estudos sobre esse assunto. De fato é preciso um olhar para essa categoria que no momento anda tão desvalorizada.

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