“Transtornos afastam
docentes das salas de aula”. Excesso de trabalho, falta de condições e decepção
com o desinteresse dos alunos impactam na saúde de professores, segundo
especialistas. Apenas no Distrito Federal, cerca de 2% dos professores não
atuam devido a doenças emocionais. (Correio Braziliense).
Nos últimos anos, houve
bastante interesse por partes dos pesquisadores em desenvolver estudos acerca da saúde mental e distúrbios
comportamentais devido o grande volume de afastamentos do trabalho que tem como
origem o estresse e outras doenças psíquicas. Percebo, no mundo globalizado, um
aumento excessivo de pessoas com transtornos emocionais e mentais,
especialmente em alguns ambientes de trabalho.
Desde a proposta de Freud de fazer da Psicologia uma
ciência natural, a contribuição da Psicanálise se dá com o estudo do
comportamento em função da história individual, em termos de acontecer humano.
Com Freud, um fato psicológico adquiriu movimento, integrou-se em um processo
porque se relacionou com os outros fatos psicológicos da mesma pessoa, no plano
atual e histórico. O que temos em Freud é a valorização da natureza ativa dos
processos inconscientes, sua qualidade dinâmica, influenciando e modelando o
pensamento e a ação conscientes (PEDROZA e ALMEIDA, 1994).
Ser professor não é apenas
ser um mediador entre o aluno e o conhecimento já construído socialmente. Ser
professor é mais do que isso, é estar envolvido na trama das relações no âmbito
escolar. O sofrimento psíquico será abordado enquanto sintoma que aponta para
um desconforto subjetivo e singular e não como uma doença orgânica. O professor
é um sujeito também que enfrenta dificuldades, que se submete a riscos, que se
encontra dividido entre seus medos e seus desejos, sua história de vida e é
vítima de seus contrastes.
Como gestora por quase 15 anos da rede Pública do
Distrito Federal, tenho testemunhado o quanto o professor é pressionado pela
sociedade em dar conta das práticas pedagógicas, o quanto ele sofre por não
realizar o que idealiza, causando
frustração, medo, ansiedade na sua profissão, principalmente, por se encontrarem inseridos
em uma sociedade que se transforma muito rapidamente e que exige constantes
mudanças e adaptações. Percebo, também, que esse sofrimento se manifesta no âmbito
subjetivo e social no ambiente escolar, sob a forma recorrente de depressão,
estresse e abandono da sala de aula, por se perceberem incapazes de responder
as demandas contraditórias presente no cotidiano escolar. Nesse contexto, eles
se sentem insatisfeitos por não conseguirem dar conta das exigências que lhe
são impostas no campo profissional por mais que se esforcem, não consegue
alcançar o nível de excelência exigido pela sociedade e não quer abrir mão de
ideais de ser um bom professor, portanto, acaba adoecendo. Por outro lado,
percebo que a escola também, não tem
nenhum tipo de planejamento no cotidiano escolar do qual fazem parte e nem
ações compartilhadas para a execução de estratégias pedagógicas que possam
melhorar as condições do exercício pedagógico, que é o trabalho do professor.
Muitas vezes, o estresse dos professores acontece devido a uma série de
demandas do próprio ambiente de trabalho e também das externas.
Souza (2002) aponta que
todos os que são professores sofrem a demolição tanto profissional quanto
pessoal da experiência devastadora de ser confrontado com o desinteresse dos
alunos, o que, de certa forma, os destitui do lugar de mestre. Os alunos que se
recusam a aprender denotam tanto o próprio fracasso quanto o do professor.
Dejours
(1987), as situações de medo e tédio são responsáveis pela emergência do
sofrimento, que se reflete em sintomas como a ansiedade e a insatisfação. O autor relaciona a esses sintomas à
incoerência entre o conteúdo da tarefa e as aspirações dos trabalhadores, a
desestruturação das relações psicoafetivas com os pares, a despersonalização
com o produto e sentimentos de frustração e adormecimento intelectual. As mudanças
ocorridas no mundo do trabalho são responsáveis pela sobrecarga e,
associada à exigência pelo, o que torna o sofrimento inevitável.
Dejours
(1994), faz uma análise das relações
entre trabalho, prazer e sofrimento com base na organização do trabalho. Para o
autor, existe um paradoxo psíquico do trabalho; este é, para uns, fonte de
equilíbrio; para outros, causa fadiga e sofrimento. Assim, o trabalho é
equilibrado quando traz consigo a possibilidade da diminuição da carga psíquica
e é extenuante quando não possibilita essa diminuição.
Kupfer
(2001) alerta que “ o mal - estar funda a civilização, as idéias de progresso e
avanço civilizatórios são incompatíveis com a condição humana cuja base são nossas piores disposições, cujo
objeto de desejo está para sempre perdido
e cujo fim é a morte. Somos constituídos por uma falta que nos funda,
mas nos condena a insatisfação estrutural e à infelicidade”(p.14)
hoje já existem vários estudos sobre esse assunto. De fato é preciso um olhar para essa categoria que no momento anda tão desvalorizada.
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